5 de fev. de 2013

Essa não é mais uma carta de amor



“Valoriza aquela mulher que lê e relê a mesma carta diversas vezes. Que atrai lembranças na tentativa falha de afastá-las. Que tenta reviver várias vezes o mesmo momento só para tentar ter o poder de sentir novamente o que a encantou pela primeira vez.”

Naquela tarde de sábado chuvosa, continuava lá alimentando a mente de nostalgias. O frio ainda entrava pela janela entreaberta, e as lágrimas começavam a correr o rosto quase se passando por despercebidas se não fosse o gosto salgado na boca. Havia criado o pior dos sentimentos: A pena própria. Passava as mãos pelo rosto secando lágrimas e cultivando cada vez mais um amor falido, sem novas esperanças. Resolvi levantar daquela cama em que me encontrei a horas, jogada a própria sorte.

Levantei-me na esperança de rever outra vez aquele rosto pálido mas cheio de vida. Não tinha saída mesmo, a única solução seria me livrar das lembranças que me atordoavam sempre. Rever suas correspondências já não era mais uma opção saudável, já que decidira ir, que leve suas lembranças junto a ti.

Sentei-me na escrivaninha que havia usado tantas vezes a te escrever, bilhetes e longas cartas. Peguei então carta por carta, lia, rasgava e sentia como num ciclo se fechando. Sentindo o mesmo sabor anterior: só haviam voltado para reafirmar minha fraqueza, diante daquele ser esguio. Após um tempo já não sobravam mais cartas, apenas fotografias.

Porque tinha que possuir um sorriso tão infantil e inocente? Para um homem tão vazio. – encarava tais fotos por longos minutos, tocava cada uma, percorria sua face, como se realmente o toca-se. Encostei a cabeça na cadeira, abaixando o corpo e fiquei ali, encarando a luz cegando meus olhos. Fui até a cozinha e de lá trouxe um isqueiro, não, não tragaria um cigarro! Pelo menos não naquele momento. De uma a uma, vi em minhas mãos cada uma delas consumidas pelo fogo que começava pelas pontas e as encolhia sem nenhuma sobra de culpa. Por fim sobravam apenas pequenos pedaços chamuscados pelo chão.

De que adiantaria? Tantos rituais, tantas queimas, se no final a mente atormentava por si só. 

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